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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Relação indecente.


Capítulo final.

O professor esperou que todos abandonassem aquela pequena sala e só depois nos falou.
- Estou preocupado com o teu aproveitamento nas aulas, talvez existam muitas dúvidas nas nossas cabeças. Eu estou disponível para vos dar umas explicações. O que me dizem?
Vi na cara de Jessy que não queria aceitar, mas eu pelo contrário achei ser o plano perfeito para a minha vingança e decidi aceitar a proposta do professor. Ele tinha apenas 25 anos, não parecia ser má pessoa, o que poderia correr mal?
- Existe apenas um pequeno problema, as explicações não podem ser dadas aqui na escola, porque teria de requerer como atividade extra, mas se quiserem seguir-me até à minha casa, não é muito longe daqui.

Aceitamos e pela primeira vez na vida sentia-me empenhada para ter uma explicação. Andamos cerca de meia hora, e pelo visto o perto era apenas uma expressão, porque as minhas pernas já estavam doendo e não era pouco. A casa encontrava-se longe de tudo e tinha um aspeto semelhante a um velho palheiro, não parecia de todo uma casa de habitação. O interior não diferia muito, mas como o professor era novo na cidade achamos normal e não fizemos grande caso. A explicação foi algo de fenomenal, ficamos a conhecer melhor o professor e conseguimos ver que as suas explicações se resumem a rigorosamente nada. Falamos por cerca de 5 minutos e o resto do tempo foi ocupado com um interrogatório onde ele parecia querer saber cada detalhe da nossa vida.

Este ritmo repartido entre escola e explicações prolongou-se por vários dias e com o tempo fomos mudando a nossa opinião relativamente ao professor, bem como cada vez mais o achava mais atraente. Certo dia a nossa explicação e suposta conversa recaiu sobre sexo, sentia nele que gostava de falar sobre tal assunto, sobretudo quando se encontrava com duas jovens estudantes bastante mais novas. O que começou numa conversa acabou numa relação a três, pura loucura de uma jovem que não sabia nada do que era a vida. Uma jovem que não se importava com as conseqüências dos seus atos, mas apenas com a sua concretização. No meio de tanta loucura não houve tempo para perguntas, muito menos para a devida proteção.

Vários dias passaram após esse acontecimento e vários acontecimentos se sucederam no mesmo quarto. Confesso que com o tempo o prazer foi diminuindo, enquanto que o de Jessy aumentava e aumentava. Muitas vezes ia sozinha ter com ele, mesmo sabendo que eu tinha conhecimento disso. Um dia, numa semana das nossas férias, lembro-me que ela disse algo que me chocou completamente, disse que se sentia tonta, que tinha vomitado e tudo apontava para uma gravidez que com o tempo e os devidos testes se veio a confirmar. Também havia certeza de quem era o pai, e isso a deixava em pânico completo porque não sabia como ele iria reagir. Tentei acalmá-la mesmo estando numa pilha de nervos, ver a pessoa que amo grávida de outra pessoa que não devia ter passado de uma simples aventura, era como agulhas que se cravavam no meu coração.

Eu a aconselhei, que ela fosse sozinha ter uma conversa e contar-lhe o sucedido. Foi isso que ela fez e eu com toda a impaciência do mundo, decidi segui-la e espiar a conversa de ambos. Fiz algo que nunca havia ter feito. Quando me aproximei de sua casa, conseguia ouvir gritos que reconhecia serem de Jessy. Aproximei-me e espiei por uma janela entreaberta. Ele estava a agarrá-la no pescoço com muita força para ser apenas um carinho, com muita força para ser um simples abraço. Ele estava quase a sufocando. Fiquei branca, sem forças e, sobretudo sem reação. Pelo vidro conseguia ver a cara de horror de Jessy, o modo como ela apagou, pela força de tão “grandes braços”. Ao ver aquilo, ao ver Jessy cair no chão morta, me senti fraca, por não poder ter feito nada. 

Apenas pensava no que tinha feito. Por qual razão a tinha deixado vir sozinha? Fui para casa, sem cabeça suficiente para pensar no que iria fazer e no que deveria ser feito. Estava com medo, triste, com nojo de mim própria por ter mantido uma relação com alguém sem coração. Considero-me pequena, toda a minha vida, fazendo o que sempre quis sem nunca me importar com nada, apenas de uma coisa, a Jessy, a menina que amo e que agora acabei por perder.

Esperei toda a noite acordada pelo dia seguinte, já tinha decidido que iria fazer justiça pelas minhas próprias mãos. Peguei a antiga arma de meu pai que com o tempo ganhou pó e teias de aranha. Tinha balas, tinha coragem, tinha revolta dentro de mim. Quando chegou o novo dia entrei na escola, com a arma na mochila, entrei na sala e assim que vi aquele traste entrar, disse “Isto é por tudo o que você fez à minha amiga, seu canalha” e disparei. O professor foi morto e eu por ter 18 anos fui condenada à prisão.

(Agora a minha pena está quase terminando, fui condenada por um homicídio e por porte de drogas. Atualmente tenho 27 anos, falta-me um ano para me livrar desta cela. Se me perguntarem se aprendi algo, digo que aprendi demais. Aprendi que sempre fui algo que no fundo não era. Aprendi que as minhas atitudes não me levaram a nada, além da prisão. Aprendi que se a minha mãe era assim, foi porque não ajudei. Aprendi também que o meu pai morreu cedo demais para me ajudar. Aprendi que temos de proteger o que mais gostamos, porque é sempre a primeira coisa que perdemos.

E agora, fora da cadeia, só desejo o que todas as “raparigas” como eu desejam, poder voltar a nascer e fazer a minha vida de um modo completamente diferente. Não sinto falta de nada desse tempo, nada mesmo, além da minha amiga Jessy a pessoa que mais amava nesta vida e que acabei por perder graças à minha imaturidade.)

FIM.

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