Páginas poderosas

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Hoje eu quero...


Eu não posso mais ouvir tua voz. Se isso acontece, um arrepio vem e me sobe o corpo até eu me contorcer fechando os olhos. Eu poderia falar de nós e o quanto eu estou diferente. Mas hoje eu quero falar sobre corpo. Sobre vontade. Sobre desejo. Sobre entrega. Sobre posse. Quero que as palavras românticas vão pra puta que o pariu. Hoje eu quero abusar de palavras de baixo calão e olhar no teu olho com vontade de te comer. Hoje, o que eu quero são movimentos intensos e firmes. Quero liberar tudo o que tá preso dentro dos meus desejos. E para isso, eu preciso de você. Hoje, eu quero me perder em mim. Eu quero que você se perca em mim. Desejo você. Quero sentir a vontade saindo pelos teus poros. Quero nosso suor junto. Desejo teu beijo. Quero que ele rasgue minha boca. Não quero mais nada além dos nossos corpos. Quero esquecer a vida. Quero que estes momentos sejam eternos e se repitam enquanto pudermos até não ter mais força ar. Quero que você me dê vida na sua cama. Quero que você me faça esquecer tudo o que existe no mundo. Hoje, eu quero te amar intensamente. Quero mostrar o fogo de Sagitário. Quero queimar a minha carne. Quero que minha alma peça pra eu parar. Foda-se a dor. Foda-se quem tiver próximo. Quero me afogar em você. Quero me perder. Quero sentir. E quero que teus olhos fixem junto com os meus. Ah, eu quero você em cima de mim, me olhando nos olhos e dizendo que eu sou só sua.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O Encontro!


Fui. Imaginava que era roubada, mas fui. Afinal, o que eu tinha a perder além de mais uma noite improdutiva? E se desse certo, se fosse diferente das outras noites? Não havia um bom motivo que me fizesse recusar o convite.

No primeiro momento tudo correu dentro da expectativa. Nada de extraordinário, nem bom, nem ruim.
Tudo normal. Sentamos à mesa de um bar, conversamos sobre o que havíamos feito naquele dia, preferências musicais, filmo gráficas e artísticas em geral – muitas das quais em comum –, nossos pais, infância, objetivos na vida e sobre o fim de semana que nos conhecemos.

Naquele dia em que nenhum de nós estava dado às interações sociais, encontramos no fumódromo o esconderijo perfeito para “uma conversa social”. Ironicamente, foram nessas condições que um puxou papo com outro. Eu de coração partido, ele de saco cheio.

Trocamos algumas palavras, fizemos piadas sobre os malucos que ali passavam, cantarolamos trechos de nossas músicas favoritas e por fim apagamos os cigarros. Antes, porém, de voltar à pista de dança onde minhas amigas se encontravam, ele pergunta meu nome e se poderia anotar meu telefone. Não houve recusa, e junto com o número, trocamos também contatos em redes sociais. Foi assim que tudo começou.

Aos poucos, fui me dando conta de que aquele ser on-line não se parecia com aquele outro da área de fumantes. Fossem talvez pelas doses de vodca ou pela atmosfera da noite, não havia notado algumas peculiaridades do moço. Algumas não tão agradáveis, mas não suficientes para esquivar do encontro proposto pouco depois. E como já dito, lá fomos nós. Dois desiludidos, eu com o amor, ele talvez com o mundo.

E então, chegou aquele momento do encontro em que o assunto acabou e o único ato previsto para revogar o clima frio que se instalou em nossa mesa era a chegada iminente de um beijo. E nesse instante, recapitulei tudo que ele havia dito neste dia, coisas que até então desconhecia sobre o ser. O término de longo relacionamento, os vícios excessivos com álcool, drogas e festas, o mundo irreal e inconsequente que ele por vezes se submetia, a relação complicada com os pais, o desemprego momentâneo. Nem tudo era ruim, afinal, ninguém é totalmente bom ou mau, mas foram tais características que minha mente se dedicou a trabalhar.

O beijo não aconteceu. Nem os possíveis contatos após o derradeiro encontro. Não sei quais foram as impressões dele sobre mim, acredito também não ter agradado. Não houve briga, raiva ou asco. O desapontamento pareceu mútuo. Às vezes as coisas são realmente da forma como imaginávamos. A noite se encerrou ali, com um até breve que sabíamos que não existiria.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Relação indecente.


Capítulo final.

O professor esperou que todos abandonassem aquela pequena sala e só depois nos falou.
- Estou preocupado com o teu aproveitamento nas aulas, talvez existam muitas dúvidas nas nossas cabeças. Eu estou disponível para vos dar umas explicações. O que me dizem?
Vi na cara de Jessy que não queria aceitar, mas eu pelo contrário achei ser o plano perfeito para a minha vingança e decidi aceitar a proposta do professor. Ele tinha apenas 25 anos, não parecia ser má pessoa, o que poderia correr mal?
- Existe apenas um pequeno problema, as explicações não podem ser dadas aqui na escola, porque teria de requerer como atividade extra, mas se quiserem seguir-me até à minha casa, não é muito longe daqui.

Aceitamos e pela primeira vez na vida sentia-me empenhada para ter uma explicação. Andamos cerca de meia hora, e pelo visto o perto era apenas uma expressão, porque as minhas pernas já estavam doendo e não era pouco. A casa encontrava-se longe de tudo e tinha um aspeto semelhante a um velho palheiro, não parecia de todo uma casa de habitação. O interior não diferia muito, mas como o professor era novo na cidade achamos normal e não fizemos grande caso. A explicação foi algo de fenomenal, ficamos a conhecer melhor o professor e conseguimos ver que as suas explicações se resumem a rigorosamente nada. Falamos por cerca de 5 minutos e o resto do tempo foi ocupado com um interrogatório onde ele parecia querer saber cada detalhe da nossa vida.

Este ritmo repartido entre escola e explicações prolongou-se por vários dias e com o tempo fomos mudando a nossa opinião relativamente ao professor, bem como cada vez mais o achava mais atraente. Certo dia a nossa explicação e suposta conversa recaiu sobre sexo, sentia nele que gostava de falar sobre tal assunto, sobretudo quando se encontrava com duas jovens estudantes bastante mais novas. O que começou numa conversa acabou numa relação a três, pura loucura de uma jovem que não sabia nada do que era a vida. Uma jovem que não se importava com as conseqüências dos seus atos, mas apenas com a sua concretização. No meio de tanta loucura não houve tempo para perguntas, muito menos para a devida proteção.

Vários dias passaram após esse acontecimento e vários acontecimentos se sucederam no mesmo quarto. Confesso que com o tempo o prazer foi diminuindo, enquanto que o de Jessy aumentava e aumentava. Muitas vezes ia sozinha ter com ele, mesmo sabendo que eu tinha conhecimento disso. Um dia, numa semana das nossas férias, lembro-me que ela disse algo que me chocou completamente, disse que se sentia tonta, que tinha vomitado e tudo apontava para uma gravidez que com o tempo e os devidos testes se veio a confirmar. Também havia certeza de quem era o pai, e isso a deixava em pânico completo porque não sabia como ele iria reagir. Tentei acalmá-la mesmo estando numa pilha de nervos, ver a pessoa que amo grávida de outra pessoa que não devia ter passado de uma simples aventura, era como agulhas que se cravavam no meu coração.

Eu a aconselhei, que ela fosse sozinha ter uma conversa e contar-lhe o sucedido. Foi isso que ela fez e eu com toda a impaciência do mundo, decidi segui-la e espiar a conversa de ambos. Fiz algo que nunca havia ter feito. Quando me aproximei de sua casa, conseguia ouvir gritos que reconhecia serem de Jessy. Aproximei-me e espiei por uma janela entreaberta. Ele estava a agarrá-la no pescoço com muita força para ser apenas um carinho, com muita força para ser um simples abraço. Ele estava quase a sufocando. Fiquei branca, sem forças e, sobretudo sem reação. Pelo vidro conseguia ver a cara de horror de Jessy, o modo como ela apagou, pela força de tão “grandes braços”. Ao ver aquilo, ao ver Jessy cair no chão morta, me senti fraca, por não poder ter feito nada. 

Apenas pensava no que tinha feito. Por qual razão a tinha deixado vir sozinha? Fui para casa, sem cabeça suficiente para pensar no que iria fazer e no que deveria ser feito. Estava com medo, triste, com nojo de mim própria por ter mantido uma relação com alguém sem coração. Considero-me pequena, toda a minha vida, fazendo o que sempre quis sem nunca me importar com nada, apenas de uma coisa, a Jessy, a menina que amo e que agora acabei por perder.

Esperei toda a noite acordada pelo dia seguinte, já tinha decidido que iria fazer justiça pelas minhas próprias mãos. Peguei a antiga arma de meu pai que com o tempo ganhou pó e teias de aranha. Tinha balas, tinha coragem, tinha revolta dentro de mim. Quando chegou o novo dia entrei na escola, com a arma na mochila, entrei na sala e assim que vi aquele traste entrar, disse “Isto é por tudo o que você fez à minha amiga, seu canalha” e disparei. O professor foi morto e eu por ter 18 anos fui condenada à prisão.

(Agora a minha pena está quase terminando, fui condenada por um homicídio e por porte de drogas. Atualmente tenho 27 anos, falta-me um ano para me livrar desta cela. Se me perguntarem se aprendi algo, digo que aprendi demais. Aprendi que sempre fui algo que no fundo não era. Aprendi que as minhas atitudes não me levaram a nada, além da prisão. Aprendi que se a minha mãe era assim, foi porque não ajudei. Aprendi também que o meu pai morreu cedo demais para me ajudar. Aprendi que temos de proteger o que mais gostamos, porque é sempre a primeira coisa que perdemos.

E agora, fora da cadeia, só desejo o que todas as “raparigas” como eu desejam, poder voltar a nascer e fazer a minha vida de um modo completamente diferente. Não sinto falta de nada desse tempo, nada mesmo, além da minha amiga Jessy a pessoa que mais amava nesta vida e que acabei por perder graças à minha imaturidade.)

FIM.