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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A primeira neve...

Um clima pós-apocalíptico, ar quase irrespirável de tão pesado, enxofre talvez, polução... Certamente. Ao fundo, a visão de uma cidade plana, ilhada pelo deserto e em chamas, explosões acontecem no horizonte como fogos de artifício, mas o som tem um atraso de um segundo pra chegar.

No primeiro plano, um Andarilho. Mas não um Andarilho qualquer, ele tem certeza da direção que toma a passos decididos e é direção contraria a cidade, ele da às costas para ela e anda, anda como se nada houvesse a ser feito ou como se já tivera terminado o que outrora tinha a fazer, gritos ecoaram em sua cabeça, mas ele decidiu conviver com eles.

Ele parece nunca ter possuído nome, vestes roupas cinza e pretas, um óculos escuro, sobretudo, não é coerente ao sol que se colocava ao meio dia, ou podia ser, estava um sol de matar realmente. O coturno lhe caía bem, assim como as luvas e a barba já por fazer. O peso da mochila não o incomoda, ela já se tornou parte dele. O vento sul dava a sensação que o seu cabelo não estava sujo, mas estava. Não eram dias fáceis.

E o Andarilho anda certo de que a cidade está ao fundo ou o que sobrou dela e, talvez não por muito tempo, seu rosto (melhor), o que resta dele, não expressa mais tristeza, não era mais preciso, não era mais possível, sobrava andar, não fugir, quando se foge, se foge de algo, não havia mais do quê.

Explosões continuam a tamborilar com certo atraso o vento a suas costas. Ele parece não pensar mais nisso, ele parece não pensar em nada, a não ser andar.

O sol de repente foi tampado por algo, que parecia, mas uma nuvem de detritos, a princípio o Andarilho não estranha e continua seu passo despropositado de tanto propósito. Mas algo está diferente, não é uma nuvem comum, não para aquela região. O Andarilho para, olha para frente como se o horizonte lhe dissesse algo, alguns segundos se passam assim, até que um elemento inusitado cai do céu, tão minúsculo que o próprio vento exercia sua força sobre ele, um elemento tão alvo que não condizia com a paisagem, assim como a nuvem e, tão belo e tão único, o elemento viaja ao sabor do imprevisível ou quase isso e cai, embora seu peso quase não fosse o suficiente para isso, mas ele cai numa viajem tão bela quanto aparentemente infinita, mas teve fim.

O Andarilho contempla o horizonte a sua frente, calmo e sem fim. Agora com uma dúvida, que quase não resiste ao seu semblante, mas estava ali. Foram apenas alguns segundos que mudaram tudo. O elemento branco em sua viagem interminável pelo céu encontra pouso em sua face direita do Andarilho, ele sente e internamente entende que o vazio já não era mais. Ele vira e olha o horizonte ante as suas costas, as explosões ainda acontecem o caos ainda estava lá, mas o Andarilho sabe que sua missão não terminou. Ele sabe que aquele lugar em chamas era o seu lugar e como não avia feito até agora, ele dá o primeiro passo de volta.

Nunca havia nevado ali, aquela foi à primeira neve.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Passos errados


Capítulo1...

Ali me deparava novamente a sofrer os efeitos de uma junção de várias substâncias que se classificam de droga. Ria de um jeito solitário junto dos meus colegas. O momento conduziu a um riso em grupo. Naquele momento apenas e a minha cabeça parecia existir, não pensava em nada. Era em nada que queria pensar, razão pela qual fumava.

Os meus colegas não sabiam o que devastava a minha mente, por vezes nem eu próprio sabia. Havia dias em que travado, parado, isolado em casa, cogitava sobre a vida e chorava sem razões, como se esta fosse mais fácil gotejando. Quanto fumava, esquecia o meu pai, verbalizando que nada faço e pronunciando que pouco valo. Para ele, escrever e cantar era zero e tudo para além do seu trabalho não tinha valor. Nunca percebi qual o mal de investir em algo em que acreditamos conseguir imprimir algum valor.

Tinha parado 30 minutos da minha vida, meditando em nada e meus amigos já tinham saído. Dirigi-me a casa, subi as escadas que me afastavam do meu quarto, peguei em meu caderno e escrevi. Atualmente escrevia o que apelidava de “a minha própria existência”. Não era algo que milhões de pessoas tencionassem ler, mas era algo que me permitia uma determinada dose de satisfação quando o fazia. Escrevia sobre o meu dia-a-dia, o que pensava e, sobretudo o que vivia. Nunca gostei de repetir os meus erros, lutava para que as pessoas os conhecessem e não caíssem sucessivamente como comigo acontecia. Atualmente era apenas um livro, um rascunho com rabiscos, com letras que apenas eu compreendia.

Um novo dia começou e com ele a sujeição de ir à escola. Estava somente dependente de uma disciplina, razão pela qual não possuía motivos para me queixar de falta de tempo livre. Fui mais cedo para a escola e como era hábito parei primeiro no spot, a fim de encontrar os meus amigos, mas ninguém estava presente. Decidi então passear pela escola sozinho, para passar algum tempo. Não existia ninguém nas redondezas.

Era engraçado como em tempo de aulas a escola ficava tão tranquila. Tão oca. Tão sem vida. Era um contraste claro com o intervalo, sinónimo de euforia e confusão. No meio de toda aquela solidão consegui avistar uma menina. Ela se encontrava sentada sobre a relva, ouvindo música no que parecia ser um iPod. Parecia ser mais nova que eu e vestia uma roupa preta e rasgada. Tinha o cabelo tingido por duas cores, loiro e preto e os seus olhos encontravam-se coloridos com um forte negro. Embora a descrição pareça negativa, tudo isso lhe conferia beleza. Passei atento a ele, não conseguia simplesmente desviar o olhar, como também não conseguia apenas passar. Decidi aborda-la.

- Gosto muito dessa música que ouves – disse tentando colocar assunto. Fiquei por momentos esperando por uma resposta, mas o som impediu que ela tivesse ouvido o que disse.
- O que disseste? – disse ela.
- Disse que gostava bastante da música que ouves.
- Conseguias ouvir? Não pensei estar tão alto – disse ela impressionada. - Sim conseguia e a alguma distância, mas tudo bem, também aprecio música alta. E me chamo Tiago e tu?
- Catarina, mas toda a gente me trata por Kate.

Depois de um alguns minutos de conversa, trocamos um beijo durante o tempo restante para o intervalo. Depois tocada à campainha, fomos embora por caminhos diferentes. Passei a aula de matemática pensando na tal Kate. Além de bonita, era inteligente, simpática e muito divertida. Acabada a aula dirigi-me ao spot, para me encontrar finalmente com o pessoal.

Caminhei pouco, visto que o spot se distanciava por poucos passos da minha escola. No curso recordei a relva onde Kate havia estado sentada. Agora se encontrava desabitado. Recapitulei nossa conversa e relembrei igualmente o seu agradável sorriso. Fiquei satisfeito por avistar os meus amigos passos à frente. Não demorei muito e após uns minutos de conversa segui rumo a casa.

Cheguei à casa pouco depois. Estava vazia. Minha mãe ainda trabalhava, faltava cerca de uma hora para o almoço. Liguei o computador e minha cabeça brilhou com a ideia de procurar a suposta Kate no Facebook. Presumia-me que ela deveria ter e que não seria difícil de encontrar. Vi a hora passar rapidamente, sem encontrar nada, sem a encontrar. Pensava agora como tinha sido tão estúpido ao ponto de não pedir contato. Nem telefone, nem e-mail, rigorosamente nada. Tinha de encontrá-la novamente, e desta vez tinha de lhe pedir contato. Não poderia ser assim tão difícil, a escola não é tão imensa, e encontrar uma pessoa deve ser fácil.

Minha mãe chegou. Almocei calado e saí logo em seguida, não conseguia ficar em casa, sabendo que aquela menina se encontrava por aí à solta. Não tinha aulas, nem vontade de entrar na escola, mas foi o que fiz, e confesso ter passado à tarde dentro de da escola, para frente e para trás, sem sinal dessa tal “miúda”. Decidi desistir, e ir ao spot que agora se encontrava vazio, para poder refletir. Avistei o local, e avistei alguém. Afinal não estava vazio como pensava estar, mas quem estaria lá? Não conseguia ver-lhe a cara. Apenas podia dizer que tinha uma pessoa lá e se encontrava a fumar. Decidi aproximar-me e dizer olá. Há medida que aquela pessoa levantou a cabeça, consegui perceber que era a Kate, com olhos de quem tinha fumado no só um simples cigarro, mas sim, um saco inteiro de drogas.

- Tu? – disse ela assustada.

Fiquei tipo uma estátua, parado, sem mexer um músculo, não a aguardava ali naquele exato momento. Não naquele local. Tinha uma determinação enorme em encontra-la até agora, mas depois de vê-la, sobretudo naquelas condições não sabia o que disser ou como reagir. Pensei que aquele local, era apenas nosso. Pensei que apenas eu e os meus colegas soubessem da sua existência. O famoso spot, não passava de uma casa lindíssima agora abandonada e coberta de musgo e sujeira, com apenas uma divisão tratada, divisão essa que abarcava agora sofás sem qualquer indício de pó e uma mesa apenas.

Kate encontrava-se sentada num desses sofás, contraída e de cabeça entre os braços que a tapavam em conjunção com uma carapuça. A admiração dela era perceptível na sua cara, tal como eu não deveria esperar visitas. Ganhei forças e decidi falar, precisava saber o que fazia ela ali, sobretudo naquelas condições. 

- Olá. Prazer em ver-te. O que fazes aqui e o que raio se passou contigo para está nesse estado? – perguntei eu, ansioso por receber uma resposta.
- Pensei ser a única a conhecer este local, confesso que me admirei com os sofás novos, mas nunca encontrei ninguém aqui há esta hora – respondeu ela, deixando a segunda parte da pergunta pendente.
- Estes sofás foram recuperados por mim e pelos meus colegas, e também pensei que fossemos apenas nós a conhecer este local.
- Isso quer dizer que não me querem aqui? – disse ela com ar preocupado.
- Não, nada disso, posso falar com eles, mas neste momento quero falar contigo.
- Comigo? Que fiz eu?
- Não me vai contar porque estás nesse estado? Ou vai continuar a fugir da questão? – disse eu com maior rigidez na voz.
- Não posso, nem quero – disse ela se levantando.
Ao levantar-se Kate acabou por desmaiar e cair no chão mesmo à minha frente. Entrei em pânico, não sabia o que fazer. Sabia que não podia ligar a uma ambulância, com a dose de droga que ela haveria consumido iria ter problemas. Achei que a melhor solução e a mais sensata seria leva-la para minha casa. Foi o que fiz...

Continua...